quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O fim do CineCultura


Em 17/11/2010, a administração do Cinecultura de Campo Grande, MS, divulgou um breve comunicado à imprensa no qual informava que “as exibições de filmes naquele cinema de arte estavam suspensas por tempo indeterminado”. As razões elencadas eram de que o fechamento se devia a uma série de fatores, dentre os quais, a diminuição de público, a queda nos recursos, e a falta de divulgação, o que fez com que houvesse uma queda significativa no número de espectadores no estabelecimento. Além disso,o fechamento definitivo do local dependeria de acordo a ser firmado com parceiros, para manter em funcionamento algumas de suas atividades. O anúncio da suspensão nas exibições de filmes coincidiu com o encerramento oficial, na sexta-feira anterior (12/11/2010), das inscrições para o 8º FestCine Pantanal, cuja previsão inicial era de ser realizado em janeiro de 2011, mas que tudo indica só deverá acontecer em maio do próximo ano, caso surjam patrocinadores. O fato é que por hora o CineCultura fechou.
Na ocasião, as explicações para o fechamento daquela sala de cinema foram as mais variadas possíveis. O proprietário do cinema, Nilson Rodrigues, disse que “a falta de interesse do Estado e da prefeitura em apoiar a iniciativa inviabilizou sua manutenção”.O presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), Américo Calheiros, embora reconheça que o Cinecultura presta serviço importante para a cidade, argumentou: “Como repassar recursos a uma iniciativa privada que ganha dinheiro com a venda de ingressos? É um espaço privado como outro qualquer”, resumiu. Para Pedro Ortale, ex-presidente da FCMS, atualmente à frente da organização do 8º FestCine Pantanal, porém, “existem formas legais do governo investir em projetos que fazem uso daquela sala”. E completou: “Todos os cinemas de arte do Brasil são financiados por órgãos públicos ou privados. Não há como ele se manter com o dinheiro da bilheteria”. Para Marcio de Camillo, membro da “Associação Amigos do Cinecultura” (AACIC), o cinema já ameaçava fechar as portas há algum tempo em razão das dificuldades financeiras.(Thiago Andrade/Correio do Estado,18/11/2010).
Mas os protestos e lamentos pelo fechamento do único cinema de arte de Mato Grosso do Sul foram contundentes. Revoltado,o cinéfilo e membro da AACIC, Silvio Santana de Souza, desabafou: “O argumento utilizado por Américo Calheiros de que o governo do estado tem outras prioridades e não poderia dispor de migalhas para o CineCultura, é ridículo. É não reconhecer a importância desse espaço para a cultura do estado.Estávamos nos firmando como capital-pólo cinematográfico no Brasil, coisa rara neste país. Para onde vão o Festcine Pantanal e o Vídeo Índio Brasil?”. E sob o título “Adeus, CineCultura”, em 07/12/2010, no blog “A invenção da solidão” está escrito: “Adeus, Lênin!, O Cheiro do Ralo, Irreversível, Os Sonhadores. Eu poderia ficar até amanhã escrevendo sobre os belíssimos filmes que assisti no CineCultura, e que acaba de fechar as portas. O motivo eu já sei e desconfio há muito tempo: falta de público, prestígio e atenção com este maravilhoso lugar que, a meu ver, era um dos meus favoritos em Campo Grande”. E o artista Marcio de Camillo, completou: “Com o fechamento do CineCultura perdemos um espaço de arte muito importante, principalmente por sediar o festival de cinema, que nos coloca no mapa audiovisual do Brasil”.
É bom que se diga, porém, que apontar a baixa afluência de público como causa principal pelo fechamento do CineCultura é apenas uma meia-verdade. Quando da primeira ameaça de “extinção” daquela sala de cinema em 2007 (ver “Ameaçado de extinção”, no Correio do Estado de 28/04/2007) – e, coincidência ou não, houve também troca no comando do governo estadual! – criou-se a “Associação dos Amigos do CineCultura” (AACIC), visando ajudar o cinema a se manter e em cuja ata de fundação (02/06/2007) consta a participação de 62 associados. Na época, não havia pagamento de mensalidade ou anuidade, mas cada associado adiantava o pagamento de quatro ingressos de meia-entrada por mês, a fim de ver os filmes depois. Além disso, até 2006, o governo estadual contribuía com recursos oficiais para o CineCultura, e em troca os funcionários públicos estaduais pagavam meia-entrada no cinema. Infelizmente, com o tempo a AACIC se esvaziou e hoje suas atas só servem para angariar recursos no ministério da Cultura, em Brasília-DF! E a ajuda do governo estadual escafedeu-se!  
O fato é que desde a sua criação, em maio de 2002, no antigo prédio da missão salesiana na rua Padre João Crippa em frente à praça do Rádio e, posteriormente, no Pátio Avenida, o CineCultura viveu, em termos de recursos financeiros, dois períodos distintos ao ano. O primeiro é o que se poderia chamar de período do “boi gordo no pasto”, que coincide com a realização do FestCine Pantanal e do Vídeo Índio Brasil, quando fluem para cá verbas do ministério da Cultura (Governo Federal), do governo estadual (até 2006!) e da prefeitura local, o que de certa forma mantêm o caixa do CineCultura no azul. O outro é o período das “vacas magras”, quando as verbas federais escasseiam, as municipais e estaduais somem e a sobrevivência do cinema depende exclusivamente da bilheteria. E é essa fase que o Cinecultura atravessa agora e, por isso, fechou.
O que fazer então? Deixar tudo como está e passar a assistir filmes tipo “Harry Potter” ou “Tropa de Elite 2” no Cinemark gastando “os tubos”, ou insistir na reabertura e manutenção do único espaço de Cine-Arte de Campo Grande e do MS, o CineCultura? A resposta inicial foi dada. A presidente da Associação dos Amigos do Cinecultura, Elis Regina, convocou uma reunião da AACIC para o próximo sábado, dia 18, às 16 horas, na sala de projeção daquele cinema no shopping Pátio Avenida. Não vamos deixar a peteca cair, né gente?
O autor, Hermano de Melo, é Escritor, estudante de jornalismo, e membro da Associação dos Amigos do Cinecultura. O artigo foi publicado no jornal Correio do Estado, edição de 16 de dezembro de 2010.

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